Na segunda edição de OUTRO OLHAR, seção onde apresentamos postagens de parceiros e colaboradores do Miscelânea, contamos com o artigo de CaioLucas. Jovem amante da música que tem se destacado com trabalhos originalmente publicados na PlayBPM - Revista de Música Eletrônica.
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No final dos anos 80 surgia um fenômeno musical na Europa, mais especificamente no Reino Unido e em Berlim, que hoje é o gênero mais vendido do mundo pela Beatport e ocupa a vanguarda dos maiores festivais de música eletrônica. Sim, estamos falando do tecno: o som que está dominando as pistas de todo o mundo e atingiu patamares que influenciaram até mesmo o universo do rock e do pop.
Mas você faz ideia do caminho percorrido por essa vertente até chegar nos dias atuais? Obviamente, outros gêneros e muitos artistas fazem parte dessa história. E aqui vamos nós desvendar passo a passo essa incrível jornada do house dos anos 80 ao tecno emergido no mainstream da cena eletrônica.
As origens do house
Assim como a moda, a música ou a
cultura pop em geral tem o costume de trabalhar em torno de “tendências” e
estas são determinadas pelos inovadores da indústria.
Após o sucesso intenso da disco-house dos anos 80 se expandir para
Chicago e chegar até o Studio 54 de Nova York, poucos imaginavam que este som
pudesse impactar o próximo meio-século. Enquanto a cena tecno de Detroit
continuava a crescer cada vez mais por conta dos elementos minimalistas
presentes nas músicas, surgia na Inglaterra no início dos anos 90 outro som com
uma vibe completamente diferente intitulado
de ‘acid house’. A novidade marcava
presença em um dos clubes mais requisitados de Manchester, o The Haçienda, e
tornou a realização das raves ilegais
em galpões uma prática comum nos fins de semana de Londres. Com o uso de drogas
como o LSD e aderindo o - agora notável - símbolo ‘Smiley Face’ como uma marca recorrente, este subgênero abriu
caminho para a descoberta do trance
no final do século passado. Figuras como Paul van Dyk, Ferry Corsten, Paul
Oakenfold e Tiesto contribuíram para garantir uma imagem mais comercial com o
uso dos lasers e os explosivos
canhões de CO2 comuns nos famosos clubes, como o Amnesia Ibiza.
O surgimento do “EDM”
Quando o termo “EDM” – Electronic
Dance Music – explodiu no final da primeira década do milênio, este foi
incorporado à cena mainstream de uma
maneira nunca antes vista. Nomes como Swedish House Mafia e o Calvin Harris
contribuíram para fundir o dance com
o pop. Tracks como ‘Miami 2 Ibiza’
e ‘I’m not alone’ dominaram por
várias semanas as paradas de sucesso no verão de 2009 e no ano seguinte pelo
mundo inteiro, sendo executadas em todas as pistas de dança dos clubes e festas
universitárias de fins de semana.
Percebendo o momento de mudança na
cena eletrônica, o astro francês David Guetta – que já passeou pelo underground se apresentando no Space
Ibiza com sets de vinil até o sol
raiar - emplacou três vezes consecutivas
o topo das paradas britânicas em um período de apenas dois meses com os
lançamentos de ‘When love takes over’,
‘Getin over’ e ‘Sexy chick’.
Os pioneiros
Aqueles que prosseguiram neste
caminho expoente foram amplamente elogiados (e também criticados) por se
aventurarem em busca de novas diversidades artísticas.
Quando o astro sueco Avicii subiu ao
palco principal do Ultra Music Festival de 2013, atingindo claramente o auge da
sua carreira, trazia, então, um som melódico inovador, que ninguém tinha conhecimento
ainda. Assim, resplandecia o momento decisivo de uma das figuras mais
importantes de um movimento que sequer apresentava indícios de saturação. A
música eletrônica nunca tinha estado na vanguarda nem alcançado tanto
reconhecimento da cobertura da grande imprensa como naquela ocasião. Ali despontava
sobre a figura revolucionária de um jovem de 23 anos, um enorme potencial de
dominar o gênero por vários anos seguintes.
Desse dia em diante, o cenário mudou.
Tim Bergling decide apresentar ao mundo uma inovação do gênero frente ao maior
festival de música eletrônica do planeta, deixando todos surpreendidos com a
sequência de várias tracks inéditas sob
influências do country e do folk, em vez dos hits ‘Silhouettes’ e ‘I could be the one. A repercussão
crítica que este set causou foi
lendária, e alguns da imprensa consideravam-no “avançado demais para a dance
music”. Meses depois, o mundo havia compreendido a genialidade de
Tim, com o seu hit ‘Wake me up’
com fortes elementos do country conquistando múltiplos
certificados de platina e atingindo mais de um bilhão de plays tanto no Spotify, como no Youtube. Nascia um pioneiro.
A queda da EDM
No período entre 2010 e 2013,
amplamente conhecido como “a era de ouro”
da EDM, a separação do trio Swedish House Mafia introduziu à cena eletrônica
uma série de novos sub-gêneros. A exemplo do som ‘Dirty Dutch’ de Hardwell, que impulsionaria o produtor de big room a alcançar o topo do polêmico ranking da DJ Mag e artistas como
Dimitri Vegas & Like Mike e Martin Garrix, que adotaram estilos similares
(até a mudança deste último para o som melódico em 2015). Os vencedores do
prêmio de “Melhor DJ do mundo” ficaram concentrados nos seis anos seguintes nas
mãos de produtores de big room; um
exemplo claro de que a indústria estava se modificando.
Com os últimos cinco anos sendo
atravessados pela introdução do ‘future
house’ em meados de 2013 (graças a Tchami e Oliver Heldens) e a eclosão do
movimento de bass music nos Estados
Unidos (ou Trap, para os mais
chegados), a paisagem da dance music vem mudando
constantemente, germinando e engrandecendo novos sub-gêneros, enquanto tentamos
buscar uma identidade fiel para definir o cenário da música eletrônica nos
tempos modernos.
A ascensão do tech house
As bases para o ressurgimento do
tecno como força dominante foram anunciadas nos últimos anos com o “salto” do tech-house para as pistas de todo o
mundo. Um gênero mais comercial companheiro das batidas industriais ríspidas do
tecno e de um house focado nas
melodias cativantes.
Além do sucesso repentino e
fundamental do australiano Fisher com seu hit ‘Losing it’, outra track
se tornou a “cabeça-de-chave” deste movimento: trata-se de ‘Cola’, da dupla
Camelphat. Mas, como esses sons com uma vibe mais deep e underground
conseguiram abrilhantar o cenário eletrônico durante dois anos seguidos, sendo
nomeados no Grammy em melhor gravação de dance
music? É possível perceber que esse som “chiclete” era inovador e logo se tornaria
o “queridinho” das pistas ao redor do planeta. Acrescentando os vocais de
Elderbrook após um encontro no estúdio em janeiro de 2017, o futuro hit oriundo
de Liverpool foi estreado por Danny Howard no especial de dance music da BBC Radio 1, de Annie Mac e Pete Tong, sendo tocado
até hoje por diversos DJ’s. Com a track
preenchendo diversos clubes ao redor de Ibiza, ela logo foi ascendida a ser
considerada a música-tema da temporada de eventos de 2017, sendo remixada por
vários produtores, como Robin Schulz, Franky Rizardo, ZHU e Teamworx. Hoje,
ultrapassando impressionantes 100 milhões de plays tanto no Spotify como no Youtube, Camelphat tornou-se um nome
de referência quando o assunto é house music.
O retorno do tecno
Nos últimos tempos, com vários fãs de
música enjoando da fórmula repetida presente no big room, aqueles que se ousam a buscar fora da caixa e fornecer
algo único e inovador para os padrões atuais estão novamente sendo
recompensados. Artistas como Enrico Sangiuliano e Adam Beyer se mantém
dominando a nova onda de tecno, juntamente com a recém gravadora Drumcode,
oferecendo as produções mais finas do lado “dark”
desta vertente. Além disso, no início deste ano a indústria já consolidava este
novo (e velho) som; sempre marcando presença nas mais populares festas de Ibiza
com figuras como o destacado Black Coffee, o brilho de Tale of Us, os sólidos
sucessos de Charlotte de Witte e Boris Brejcha e a icônica lenda Carl Cox. Sem
contar com inúmeros festivais voltados para o gênero que vêm movimentando uma
multidão de fãs nos últimos anos. Como o DGTL, Time Warp, Awakenings e o
Movement. Era chegada a hora do tecno emergir das profundezas do underground para a vanguarda da cena
eletrônica novamente.
Que riqueza de lembranças musicais , sem perceber viagem no tempo ,tirando meu chapéu .
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