Este é o Miscelânea, por Júlio Lucas

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terça-feira, 17 de novembro de 2020

A trajetória da música eletrônica: do house até o retorno do tecno ao mainstream


Na segunda edição de OUTRO OLHAR, seção onde apresentamos postagens de parceiros e colaboradores do Miscelânea, contamos com o artigo de CaioLucas. Jovem amante da música que tem se destacado com trabalhos originalmente publicados na PlayBPM - Revista de Música Eletrônica. 

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No final dos anos 80 surgia um fenômeno musical na Europa, mais especificamente no Reino Unido e em Berlim, que hoje é o gênero mais vendido do mundo pela Beatport e ocupa a vanguarda dos maiores festivais de música eletrônica. Sim, estamos falando do tecno: o som que está dominando as pistas de todo o mundo e atingiu patamares que influenciaram até mesmo o universo do rock e do pop. 

Mas você faz ideia do caminho percorrido por essa vertente até chegar nos dias atuais? Obviamente, outros gêneros e muitos artistas fazem parte dessa história. E aqui vamos nós desvendar passo a passo essa incrível jornada do house dos anos 80 ao tecno emergido no mainstream da cena eletrônica.


As origens do house

Assim como a moda, a música ou a cultura pop em geral tem o costume de trabalhar em torno de “tendências” e estas são determinadas pelos inovadores da indústria.

Após o sucesso intenso da disco-house dos anos 80 se expandir para Chicago e chegar até o Studio 54 de Nova York, poucos imaginavam que este som pudesse impactar o próximo meio-século. Enquanto a cena tecno de Detroit continuava a crescer cada vez mais por conta dos elementos minimalistas presentes nas músicas, surgia na Inglaterra no início dos anos 90 outro som com uma vibe completamente diferente intitulado de ‘acid house’. A novidade marcava presença em um dos clubes mais requisitados de Manchester, o The Haçienda, e tornou a realização das raves ilegais em galpões uma prática comum nos fins de semana de Londres. Com o uso de drogas como o LSD e aderindo o - agora notável - símbolo ‘Smiley Face’ como uma marca recorrente, este subgênero abriu caminho para a descoberta do trance no final do século passado. Figuras como Paul van Dyk, Ferry Corsten, Paul Oakenfold e Tiesto contribuíram para garantir uma imagem mais comercial com o uso dos lasers e os explosivos canhões de CO2 comuns nos famosos clubes, como o Amnesia Ibiza.

 

O surgimento do “EDM”

Quando o termo “EDM” – Electronic Dance Music – explodiu no final da primeira década do milênio, este foi incorporado à cena mainstream de uma maneira nunca antes vista. Nomes como Swedish House Mafia e o Calvin Harris contribuíram para fundir o dance com o pop. Tracks como ‘Miami 2 Ibiza’ e ‘I’m not alone’ dominaram por várias semanas as paradas de sucesso no verão de 2009 e no ano seguinte pelo mundo inteiro, sendo executadas em todas as pistas de dança dos clubes e festas universitárias de fins de semana.

Percebendo o momento de mudança na cena eletrônica, o astro francês David Guetta – que já passeou pelo underground se apresentando no Space Ibiza com sets de vinil até o sol raiar -  emplacou três vezes consecutivas o topo das paradas britânicas em um período de apenas dois meses com os lançamentos de ‘When love takes over’, ‘Getin over’ e ‘Sexy chick’.

 

Os pioneiros

Aqueles que prosseguiram neste caminho expoente foram amplamente elogiados (e também criticados) por se aventurarem em busca de novas diversidades artísticas.

Quando o astro sueco Avicii subiu ao palco principal do Ultra Music Festival de 2013, atingindo claramente o auge da sua carreira, trazia, então, um som melódico inovador, que ninguém tinha conhecimento ainda. Assim, resplandecia o momento decisivo de uma das figuras mais importantes de um movimento que sequer apresentava indícios de saturação. A música eletrônica nunca tinha estado na vanguarda nem alcançado tanto reconhecimento da cobertura da grande imprensa como naquela ocasião. Ali despontava sobre a figura revolucionária de um jovem de 23 anos, um enorme potencial de dominar o gênero por vários anos seguintes.

Desse dia em diante, o cenário mudou. Tim Bergling decide apresentar ao mundo uma inovação do gênero frente ao maior festival de música eletrônica do planeta, deixando todos surpreendidos com a sequência de várias tracks inéditas sob influências do country e do folk, em vez dos hitsSilhouettes’ e ‘I could be the one. A repercussão crítica que este set causou foi lendária, e alguns da imprensa consideravam-no “avançado demais para a dance music”. Meses depois, o mundo havia compreendido a genialidade de Tim, com o seu hit ‘Wake me up’

com fortes elementos do country conquistando múltiplos certificados de platina e atingindo mais de um bilhão de plays tanto no Spotify, como no Youtube. Nascia um pioneiro.

 

A queda da EDM

No período entre 2010 e 2013, amplamente conhecido como “a era de ouro” da EDM, a separação do trio Swedish House Mafia introduziu à cena eletrônica uma série de novos sub-gêneros. A exemplo do som ‘Dirty Dutch’ de Hardwell, que impulsionaria o produtor de big room a alcançar o topo do polêmico ranking da DJ Mag e artistas como Dimitri Vegas & Like Mike e Martin Garrix, que adotaram estilos similares (até a mudança deste último para o som melódico em 2015). Os vencedores do prêmio de “Melhor DJ do mundo” ficaram concentrados nos seis anos seguintes nas mãos de produtores de big room; um exemplo claro de que a indústria estava se modificando.

Com os últimos cinco anos sendo atravessados pela introdução do ‘future house’ em meados de 2013 (graças a Tchami e Oliver Heldens) e a eclosão do movimento de bass music nos Estados Unidos (ou Trap, para os mais chegados), a paisagem da dance music vem mudando constantemente, germinando e engrandecendo novos sub-gêneros, enquanto tentamos buscar uma identidade fiel para definir o cenário da música eletrônica nos tempos modernos.

 

A ascensão do tech house

As bases para o ressurgimento do tecno como força dominante foram anunciadas nos últimos anos com o “salto” do tech-house para as pistas de todo o mundo. Um gênero mais comercial companheiro das batidas industriais ríspidas do tecno e de um house focado nas melodias cativantes.

Além do sucesso repentino e fundamental do australiano Fisher com seu hit ‘Losing it’, outra track se tornou a “cabeça-de-chave” deste movimento: trata-se de ‘Cola’, da dupla Camelphat. Mas, como esses sons com uma vibe mais deep e underground conseguiram abrilhantar o cenário eletrônico durante dois anos seguidos, sendo nomeados no Grammy em melhor gravação de dance music? É possível perceber que esse som “chiclete” era inovador e logo se tornaria o “queridinho” das pistas ao redor do planeta. Acrescentando os vocais de Elderbrook após um encontro no estúdio em janeiro de 2017, o futuro hit oriundo de Liverpool foi estreado por Danny Howard no especial de dance music da BBC Radio 1, de Annie Mac e Pete Tong, sendo tocado até hoje por diversos DJ’s. Com a track preenchendo diversos clubes ao redor de Ibiza, ela logo foi ascendida a ser considerada a música-tema da temporada de eventos de 2017, sendo remixada por vários produtores, como Robin Schulz, Franky Rizardo, ZHU e Teamworx. Hoje, ultrapassando impressionantes 100 milhões de plays tanto no Spotify como no Youtube, Camelphat tornou-se um nome de referência quando o assunto é house music.

 

O retorno do tecno

Nos últimos tempos, com vários fãs de música enjoando da fórmula repetida presente no big room, aqueles que se ousam a buscar fora da caixa e fornecer algo único e inovador para os padrões atuais estão novamente sendo recompensados. Artistas como Enrico Sangiuliano e Adam Beyer se mantém dominando a nova onda de tecno, juntamente com a recém gravadora Drumcode, oferecendo as produções mais finas do lado “dark” desta vertente. Além disso, no início deste ano a indústria já consolidava este novo (e velho) som; sempre marcando presença nas mais populares festas de Ibiza com figuras como o destacado Black Coffee, o brilho de Tale of Us, os sólidos sucessos de Charlotte de Witte e Boris Brejcha e a icônica lenda Carl Cox. Sem contar com inúmeros festivais voltados para o gênero que vêm movimentando uma multidão de fãs nos últimos anos. Como o DGTL, Time Warp, Awakenings e o Movement. Era chegada a hora do tecno emergir das profundezas do underground para a vanguarda da cena eletrônica novamente.

Um comentário:

  1. Que riqueza de lembranças musicais , sem perceber viagem no tempo ,tirando meu chapéu .

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