Em
meio à pandemia, que já registrou mais de 165 mil mortes no país, milhões de
brasileiros compareceram às urnas no último domingo (15) para a escolha dos seus
representantes que ocuparão os cargos de prefeitos e vereadores a partir de
janeiro de 2021. Mais de meio milhão de candidatos concorreram ao pleito em
5.567 municípios brasileiros. De fora ficou Macapá (AP), por conta do apagão,
além do Distrito Federal e Fernando de Noronha, territórios diferenciados que
não participam de eleições municipais.
Dos
147,9 milhões de eleitores aptos a votar, mais de 30% deixaram de escolher seus
representantes. O número recorde ultrapassou a soma dos 45 milhões de ausentes,
nulos e brancos. Mas essa possível reafirmação de descrença na classe política,
parece ter deslocado o desânimo para um comportamento reativo do eleitorado. Esperava-se
que essa tendência já demonstrada na última eleição em 2016, quando 27,8%
abriram mão do sufrágio universal, somada às restrições impostas pela Covid-19,
provocasse bem mais abstenções superando com folga o índice histórico, desde a
adoção da urna eletrônica em 1996. Nesse cenário geopolítico em constante
mobilidade, intensificado pela pandemia - a exemplo da corrida presidencial nos
EUA em que a maioria participativa negou a Trump a reeleição – foi o clamor popular
por maior atenção à ciência, saúde, meio ambiente e justiça social, que a tecla
verde CONFIRMA emitiu mais vezes no último domingo.
Um
indicativo bem-humorado do arrefecimento da onda bolsonarista pode ser visto
nos memes alusivos ao “Mick Jagger da política”, numa associação direta da
imagem do presidente à fama de pé frio do roqueiro inglês. Surgidos desde que
Bolsonaro passou a amargar sucessivas derrotas de seus aliados ideológicos na
Argentina, Bolívia, Venezuela, Estados Unidos. As piadas na internet se
intensificaram nas horas seguidas à totalização dos votos pelo TSE, ao
constatarem-se que, dos sete indicados por Jair Bolsonaro ao posto de prefeito
- numa certa lista publicada e logo retirada das redes sociais após a
divulgação dos primeiros resultados das eleições brasileiras - cinco pupilos saíram
do páreo e os dois que estão no segundo turno, Capitão Wagner (Pros), em
Fortaleza, e o prefeito Marcelo Crivella (PRB), no Rio de Janeiro, chegam na
segunda colocação da disputa. O caso de Celso
Russomanno (Republicanos), favorito de Bolsonaro em São Paulo, foi mais
gritante: o midiático defensor do consumidor ficou em quarto lugar com pouco
mais de 10% dos votos.
A
fulminante perda de território da extrema direita vai além. O PSL, que surfou na
onda do bolsonarismo em 2018 tornando-se a segunda maior bancada da Câmara
Federal, volta à condição de legenda nanica depois do pífio desempenho nas
urnas que o levou a ocupar as últimas posições no ranking de partidos com candidatos
eleitos.
Mas
não só a extrema direita recebeu do eleitorado claro recado de insatisfação. A
perda do protagonismo do PT diante das esquerdas, que já vinha abalado desde as
últimas eleições, também vem se confirmando. A escalada de Guilherme Boulos (PSOL), aos 38 anos, com mais de um
milhão de votos na capital paulista que o conduziram ao segundo turno contra o
prefeito Bruno Covas, demonstra a procura do maior colégio eleitoral do Brasil
por nova cara da esquerda. O mesmo aconteceu com Manuela D’ávila do PCdo B que
aos 31 anos segue para o segundo turno em Porto Alegre com 29% dos votos.
Potencializados com o sucesso no
primeiro turno os partidos do bloco chamado Centrão, como o PP, PSD, PTB, PL e
Republicanos, elegeram mais de dois mil prefeitos. Um outro fator pode deixar
Bolsonaro com barbas de molho: o destaque também do MDB, do DEM e do
PSDB. Entre as 100 maiores cidades do país, os tucanos conquistaram nove; os
emedebistas, oito; democratas, cinco. Essa situação coloca o presidente da república
refém da ala mais fisiológica para conseguir palanque na sua ambição por reeleição
em 2022
Longe dos discursos extremistas, o soteropolitano, demonstrando aprovação da condução da capital baiana pelo prefeito ACM Neto nos últimos oito anos, garantiu a ascensão do seu sucessor Bruno Reis já no primeiro turno com a folga de mais de 500 mil votos à frente da segunda colocada, Major Denice, do PT. Mas nem tudo é perda e dano para o Partido dos Trabalhadores. Parte do povo baiano também corresponde positivamente à batuta do governador Rui Costa nas maiores cidades do interior. Há condições de retomada com Zé Raimundo (PT) à frente de Hérzem Gusmão (MDB), atual prefeito, que tenta a reeleição nessa segunda etapa do pleito em Vitória da Conquista. Outra disputa acirrada ameaça, em Feira de Santana, a permanência de um emedebista: Colbert Martins X Zé Neto, do PT. Este, detém o primeiro lugar com 41,55% dos votos. Em Jequié, terra da primeira dama do estado, Aline Peixoto, uma ampla coligação sob apoio do governador leva Zé Cocá (PP) a gerir o município pelos próximos quatro anos.
Resta aguardar a definição
do panorama nacional após 29 de novembro quando
57 cidades no país, entre as quais 18 capitais, irão ao segundo turno. Duas, ainda
estão com a situação indefinida, 'sub judice', no Rio de Janeiro. Só então se desenhará um prognóstico mais confiável do desenrolar da
instável política brasileira pelos próximos anos, visto que o PT continua na disputa por 15 prefeituras, de acordo com os
dados do TSE, seguido do PSDB, que permanece na corrida em 14 municípios.
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