Este é o Miscelânea, por Júlio Lucas

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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

PAUSA PARA POESIA

Narlan: um olhar poético de Itaquara para o mundo
NARLAN MATOS TEIXEIRA nasceu em Itaquara.Tem fortes ligações com Jequié, cidade que visitou no último São João para rever amigos e assistir ao antológico show de Gilberto Gil.
Apesar de muito jovem (34 Anos de idade) Narlan tem um invejável currículo artístico e acadêmico. Motivado por Rogério Duarte, atualmente desenvolve trabalho com ênfase no que ele chama de “segunda fase do tropicalismo”, em que o “grupo de Jequié” teve participação fundamental. Na opinião do pesquisador itaquarense, os artistas plásticos Edinísio Ribeiro e Dicinho, os poetas Jorge e Waly Salomão, juntamente com o grupo musical Bossa Seis, e os talentos multifacetados de Lula Martins, César Zama e Maurício Bastos - todos de Jequié - foram responsáveis diretos pela construção da fase mais underground do tropicalismo, influenciando significativamente as mais variadas linguagens artísticas no cenário pós-moderno a partir da década de 70.
Graduado em Literatura pela UFBA, mestre em Belas Artes, tendo lecionado Cultura Brasileira nas universidades da Califórnia e do Texas, Narlan faz doutorado pela University of New México. O eclético artista é bem relacionado com grandes nomes das artes, como o poeta Ferreira Goulart, João Gilberto e os beatniks Laurence Ferligethy e Robert Creeley.
Seu livro de estréia “Senhoras e Senhores: o amanhecer!” é um dos vencedores do Prêmio Copene de Literatura e Arte (1997), da Fundação Casa de Jorge Amado. Seu segundo livro, “No Acampamento das Sombras”, venceu o Festival Universitário de Literatura – Prêmio XEROX de Literatura Brasileira (2001).
Veja poemas do itaquarense que tem seu nome incluído no The Poetry of Men´s Lives, uma das mais completas antologias poéticas publicadas nos EUA:


VERSOS ENCANTADOS DESDE LA HABANA

Eu cometo versos
Como quem caminha de madrugada por uma calle de la Habana
e avista sobre um muro debruçadas magnólias 
materializadas como se fossem estrelas do mar
ao seu redor ramas verdes lhe guardam da escuridão 
outras flores brancas caladas as observam
eu cometo versos
como quem dedilha uma guitarra cigana na Plaza de España em Sevilla
numa tarde onde uma árvore toureia o vento lento
e uma dançarina de flamenco desenha pássaros com seus gestos
(sob sua sombra fresca dorme a poesia)
eu cometo versos
como quem lê Florbela Espanca numa quinta de Lisboa
repousado entre o branco marfim da cidade e o vermelho do sol
na mesa de uma taberna ao lado de uma garrafa de vinho tinto
descubro e me enamoro da musa e da brisa e do sal do mar
ao longe a praia aguarda pelos marinheiros que nunca se foram
eu cometo versos
como uma ilha chilena atenta à espera de um náufrago 
como colheres de prata ao sol matinal de Madrid
a desconfiança da liberdade ante um campo florido
como quem vê com alma e por isso não precisa mais dos olhos
Eu cometo versos
Como quem nasce de repente como quem avista a Andaluzia 
Como quem brinca com a luz sobre a pele das coisas
Como o vento cochichando com o porto e com as velas brancas
Como quem busca sereias e tesouros em mares perdidos
Eu cometo versos
Como amantes ensandecidos pela beleza ardem numa tarde de Andorra
Como os suicidas que partirão ao amanhecer na carruagem do indizível
Sem cartas nem bilhetes suicida
Eu cometo versos
Como quem comete um crime e aguarda pelo castigo dos deuses.



ORAÇÃO ULTRAMODERNA

Senhor,
Que o relógio em meu pulso seja apenas um instrumento do tempo
Não meu mestre
Que as ruas me ensinem a conjugar os verbos que não aprendi nos livros
Que eu não chegue ao fim como a velha do 502
Que muito sabe da vida alheia por não mais possuí-la
E por fim,
Que minha vida, que minhas últimas palavras não sejam como em “instantes”
Aquilo que era para ter sido
E que não foi.
Amém

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