Este é o Miscelânea, por Júlio Lucas

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sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

PAUSAPARAPOESIA: Dois poemas de Clarice Lispector para Clarice Lispector


Cklarice Lispector nasceu em 10 de dezembro de 1920 (Chechelnyk, Ucrânia) 
e faleceu em 9 de dezembro de 1977 (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro)



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ESTRELA PERIGOSA


Estrela perigosa
Rosto ao vento
Marulho e silêncio
leve porcelana
templo submerso
trigo e vinho
tristeza de coisa vivida
árvores já floresceram
o sal trazido pelo vento
conhecimento por encantação
esqueleto de idéias
ora pro nobis
Decompor a luz
mistério de estrelas
paixão pela exatidão
caça aos vagalumes.
Vagalume é como orvalho
Diálogos que disfarçam conflitos por explodir
Ela pode ser venenosa como às vezes o cogumelo é.
No obscuro erotismo de vida cheia
nodosas raízes.
Missa negra, feiticeiros.
Na proximidade de fontes,
lagos e cachoeiras
braços e pernas e olhos,
todos mortos se misturam e clamam por vida.
Sinto a falta dele
como se me faltasse um dente na frente:
excrucitante.
Que medo alegre,
o de te esperar.



(Clarice Lispector)



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MINHA ALMA TEM O PESO DA LUZ


Minha alma tem o peso da luz.
Tem o peso da música.
Tem o peso da palavra nunca dita,
prestes quem sabe a ser dita.
Tem o peso de uma lembrança.
Tem o peso de uma saudade.
Tem o peso de um olhar.
Pesa como pesa uma ausência.
E a lágrima que não se chorou.
Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros.



                                                                                        (Clarice Lispector)

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