Este é o Miscelânea, por Júlio Lucas

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terça-feira, 26 de junho de 2012

São João passou por Jequié mantendo tradição e deixando lições

Praça cheia todas as noites comprovou a consolidação da festa mesmo com redução dos custos 
Apesar da longa estiagem que assola o Nordeste - somente na Bahia, 250 municípios decretaram estado de emergência – obrigando algumas cidades a cancelar a festa, Jequié realizou o evento em praça pública. Atendendo recomendações do Ministério Público o tradicional festejo junino aconteceu na Cidade Sol com significativa redução dos gastos. 

Flávio José e seu forró poético para o grande público

Elba Ramalho de volta com homenagem ao Rei do Baião
A primeira noite (22/06) foi uma bela demonstração de que a fogueira da alegria e da tradição em Jequié continua acesa apesar das dificuldades. As principais praças e ruas da cidade estavam cheias de jequieenses e visitantes. Gente de todas as classes sociais e de várias gerações se encontrou na Praça Rui Barbosa para beber, comer e dançar na Vila Junina. No palco principal, na Praça da Bandeira, uma multidão assistiu aos grandes representantes da música nordestina. O forró poético de Flávio José e a cantora Elba Ramalho, que já se sente em casa, foram recebidos mais uma vez com aplausos e euforia. 

O refugo do CavaleirosA noite de sábado perderia o brilho se dependesse da atração mais esperada pelo grande público. O Cavaleiros do Forró, que ano passado atrasou e fez uma meia-sola refugou mais uma vez este ano. Programado para se apresentar às 3h da madrugada, chegou às 6h30 da manhã disposto a tocar quando a cidade já descansava para a última noite de festa. A organização do evento tomou providencias jurídicas e negociou com a banda para que permanecesse na cidade e se apresentasse no início da noite de domingo. Teve quem gostasse da ideia que acabou por permitir uma plateia mais eclética, incluindo crianças, para ver o grupo inaugurando um novo horário na grade de programação. 

Cavaleiros do Forró: apresentação adiada para última noite
A ocorrência não tirou o brilho da segunda noite. O Cangaia, grupo que nasceu nas festas de repúblicas universitárias de Jequié, se reencontrou com a platéia de conterrâneos, que há muito reclamava sua apresentação em praça pública. O profissionalismo e elegância do forró de Waldonys também garantiram a animação no palco principal. 

Targino: simpatia, refinamento e simplicidade

O domingo - além do Cavaleiros se redimindo com o público no início da noite - contou também com a alegria simpática de Targino Gondim e seu forró bem dosado de refinamento sem perder a simplicidade. 

Animadores da festa: Caxangá e Fulô e os
radialistas Antônio Carlos e Márcio Lima  
  
Papo com Targino - No camarim, em papo descontraído sobre o atual panorama da música nordestina, o sanfoneiro pernambucano/baiano alertou: “é preciso ter cuidado com esses termos que o pessoal vem usando por aí: ‘resgate do forró pé de serra’. O forró nunca morreu”. À minha interpelação, o músico concordou que talvez os termos “resistência” da tradição e “reconhecimento” de legítimos representantes sejam mais adequados. E completou: “além do mais, não tem essa coisa de “forró pé de serra... forró é forró, pé de serra é o forró feito no pé da serra.” 

Ao lado de Caxangá e Fulô, Ricardo Britto
(coordenador geral) e Kátia Morbeck
(coordenadora da Vila Junina)
Mesmo reconhecendo o diferencial de Jequié, que há alguns anos vem promovendo sinceras homenagens temáticas aos ícones da música nordestina reclamou: “Essas homenagens que vi durante o centenário de Luiz Gonzaga foram muito pouco diante da importância dele”. 

Fica a lição - De um jeito ou de outro, o São João passou por Jequié mais uma vez. E o que fica de lição é que a continuidade da proposta de uma grande festa mesclando a tradição junina presente nas nossas raízes com moderna infraestrutura para receber familiares e visitantes tem dado certo. 

Diretor Ricardo Britto e Secretário Irailton
Santos ladeados por membros da equipe

A praça cheia de alegria e paz, bares restaurantes e hotéis lotados, trânsito e postos de gasolina movimentados, lares cheios de parentes e familiares durante esses três dias são emblemáticos: comprovam que tem funcionado a resistência da gestão da Secretaria de Cultura do Município que, mesmo passando por várias mudanças e pressões diversas, não se rendeu por completo aos apelos e seduções do poder da mídia de massa e outros interesses. 
Ainda que continuem tentando nos convencer que a ausência de mega-atrações comerciais de qualidade duvidosa e sucessos efêmeros, que nada têm de junino e genuíno, levaria nossos festejos à bancarrota - quando a verdade é comprovadamente o contrário -, espero que os futuros gestores públicos não permitam cair por terra esse trabalho plantado há pelo menos sete anos e que há trancos e barrancos vem consolidando uma festa diferenciada de cunho cultural para toda a família sem perder sua importância social e econômica para o município. (FOTOS: Zenilton Meira)

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