Este é o Miscelânea, por Júlio Lucas

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segunda-feira, 16 de maio de 2011

Jau: existe vida inteligente na axé music!

Jau - música de qualidade para cantar e dançar
Breve histórico da axé - Ela nasceu nos anos 80 vinculada ao Carnaval baiano numa mistura de ritmos como o Frevo, forró, Maracatu, Reggae, Calipso, samba, ijexá e merengue. À expressão “axé”, proveniente da saudação religiosa do candomblé e da umbanda que significa energia positiva, foi afixado o termo em inglês “music”. Apelido forjado pelo jornalista Hagamenon Brito. A verdade é que a alcunha com intenções pejorativas caiu como luva para designar os vários estilos musicais com swing baiano que saíam do Carnaval de Salvador e tomavam outras praças até que se tornassem mania nas rádios de todo o país. 

Artur (Produções), Shau e Júlio Lucas (TdR) 
nos bastidores da festa
Autofagia - Sempre questionada pelo gosto duvidoso da maioria das suas letras e motivada pela obcecada fome de sucessos de produtores e gravadoras, a indústria da axé music acabou por adquirir o habito de comer o próprio rabo - como costuma dizer meu amigo Ricardo Borges –, revelando a cada verão novas estrelas (talvez melhor dizer, meteoros) ao tempo em que enterra no ostracismo grandes artistas responsáveis pela ascensão do chamado movimento musical baiano. 
Shau e os Anéis de Saturno abriram a noite
Nessa autofagia cultural, a assimilação do samba duro (gênero genuinamente da Bahia) pelas gravadoras também entrou na roda comercial, e ajudou nos altos e baixos da música baiana. Diga-se de passagem: altos índices de vendagens e baixos calões nas mensagens swingadas que costumam chamar de alegria e irreverência. A coisa chegou a tal ponto que um programa de auditório de uma rede de TV aberta com  audiência nacional promoveu concurso infantil para escolher as criancinhas que descessem mais bonitinho “na boquinha da garrafa” (sucesso musical da ocasião) até que a justiça finalmente entrasse em cena proibindo o alegre e sórdido espetáculo semanal para a família brasileira. 
Atualmente, na ponta do iceberg do mainstream baiano estão nas paradas de todo o brasil apenas Ivete Sangalo e Cláudia Leitte, enquanto um sopro ou outro tenta reinventar a chamada axé music através de algumas excentricidades fulminantes.
Jau e o legado da antropofagia - Bem diferente desse contexto, somando-se ao legado dos antropófagos tropicalistas, situa-se Jauperi Lázaro dos Santos. Dono de uma bela voz e marcantes interpretações, Jau, como é mais conhecido, é um artista que por pouco, não foi condenado ao esquecimento, por causa da visão curta e o ouvido bitolado a sucessos efêmeros de parte dos empresários e produtores musicais do nosso estado. Compositor gravado por diversos artistas locais como Ara Ketu, Netinho, Cheiro de Amor, Pierre Onássis, Jau foi revelado aos 17 anos pelo Olodum, quando teve oportunidade de participar dos mais importantes festivais de música da Europa (Montreaux, Womad, Metisse Musique) e de dividir palco com estrelas renomadas do cenário nacional, como Djavan, Marisa Monte e Paralamas do Sucesso e internacional, como Paul Simon, Tracy Chapman, Wayne Shorter, Joan Baez e Courtney Pine. 
A vasta experiência trouxe à carreira solo, motivada pelo amigo Caetano Veloso, um repertório eclético desprovido de rótulo com interpretações marcantes e canções bem construídas, sem deixar de lado o swing característico da música baiana. Feito que eleva a cultura musical afro-baiana ao patamar que merece. 
Em Jequié, o produtor Artur Pires (Artur Produções) fez um excelente - e pelo que vi, exaustivo - trabalho de divulgação para que a apresentação de Jau, ocorrida no sábado (14), fosse uma festa de alegria e sucesso, já que boa parte da grande mídia não dá a mínima ao que tem qualidade e substância. 
Shau e os Anéis de Saturno - O quarteto semi-acústico formado por Shau - Voz e Violão, Yuri Rodrigues - Violão e Voz, Vankleber Vitório - back vocal e Flauta transversal e Son Borges - Instrumentos de percussão, abriu a noite com pop rock do bom. Em seguida Marcos Belchote, com Pedrinho (baixo) e Son (percussão), completou a festa com repertório de MPB dançante até a chegada de Jau.
O público de bom gosto (de crianças a idosos) presente no estacionamento do Centro de Cultura, não apenas atendeu ao chamamento, mas participou cantando e dançando sucessos na voz de Jau, como Flores da Favela, Sandália de Couro, Cidade dos Poetas; clássicos da música baiana como É D’oxum e do Jeito que Seu Nego Gosta; além de pérolas de Caetano, Gil e mesmo Legião Urbana. Todos brindaram a oportunidade rara de dançar música baiana sem se submeter a cotoveladas, banhos indesejados de cerveja e principalmente sem ter que descer até o chão. 

Um comentário:

  1. Belo texto, Júlio, a apresentação foi super bacana mesmo.

    Luciano Medina

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