Este é o Miscelânea, por Júlio Lucas

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domingo, 26 de dezembro de 2010

Presente de Natal

Quando acreditava em Papai Noel, sonhava com o presente de natal, nunca desejei um presente específico, vivia ainda na “sociedade de produtores” e todo presente sempre era bom: um carrinho, um realejo-de-boca etc. qualquer presente era o motivo de felicidade. 

Mas, um dia na vida de todos nós, sorrateiramente, a verdade chega sem avisar, e, sem preparar a alma, revela a inexistência do Papai Noel e a realidade impressa em alto-relevo desvela as desigualdades, e a ingênua felicidade, passa a ser temperada com a melancolia da vida real. 
O brinquedo industrializado era mais colorido e às vezes mais bonito que os carros que eu fazia, com a cabine de lata de óleo de soja, o feixe de mola feito de tiras de folhas-de-flandres, o chassi era um pedaço de tábua retangular e os pneus recortados de sandálias japonesas. 
No entanto, não havia concorrência entre o prazer de construir o próprio brinquedo e o de ganhar pronto no Natal. 
Naquela época, a família do trabalhador devia estar sempre pronta para enfrentar as exigências dos empregadores, por esta razão, devia manter-se em estado saudável e em condições dignas de vida. Um investimento necessário da “sociedade de produtores”. 
Mas, avançamos, e na contemporaneidade, vivemos na “sociedade de consumidores” na qual os trabalhadores desempregados, considerados consumidores irregulares, deixaram de ser um recurso em potencial, pois suas chances de reencaixar no setor produtivo é quase nula, pois o novo e pequeno exército de reserva é composto por profissionais qualificados. Os desempregados perderam o status de questão social para torna-se uma questão de manutenção da lei e da ordem. O Governo não tem mais interesse em mantê-los em um estado saudável, e sua ação se resume em policiar e submeter a condição de excluídos da sociedade. 
As denominadas políticas sociais do Governo, nada mais são que um mecanismo para garantir a sobrevivência dos trabalhadores excluídos. Tratam-se de ações para manterem tal população dominada e isolada da população ativa da “sociedade de consumidores” 
Quem banca esse jogo são os trabalhadores ativos, submetidos a uma carga tributária nunca antes aplicada na história deste país. Os impostos são confiscados com o propósito original de serem aplicados para garantir os direitos sociais: educação, saúde, segurança, infra-estrutura, estradas etc. mas, constatamos no dia a dia que os direitos sociais não são garantidos em sua plenitude. Estamos cada vez mais abandonados e se valendo dos nossos próprios recursos para garantir os direitos sociais. A falta de confiabilidade no Governo força a criação de uma sociedade individualista que considera a solidariedade comunal irrelevante. 
Pois, vivemos cercados de denúncias de escândalos de corrupção: de ministros de confiança e seu chefe não sabia, de secretária de ministra que também não sabia, de assessora de senadora que de mesma forma não sabia etc. e todos com os mesmos discursos: vão investigar e punir os culpados e ponto. Não assumem responsabilidades. O natural é reconhecer a corrupção e responsabilizar um subalterno que assuma a culpa e está tudo resolvido. 
Como se não bastasse, recebemos o presente de Natal, a cobrança de mais tarifas, os pedágios da Via Bahia, e mais uma vez a conta será paga pelos trabalhadores, pois os valores dos pedágios serão repassados nos custos dos serviços e mercadorias. 
Caro leitor, finda o ano, agradeço cada palavra de incentivo. Desejo-lhe um Feliz Natal e um Ano Novo com Saúde e Realizações. 

Artigo publicado na Revista Cotoxó, por Adilson Gomes. (Biológo, professor da UNEB, Coordenador do Polo UAB – Ipiaú/BA, Mestre em Educação e Contemporaneidade, Presidente da Academia de Letras de Jequié (ALJ). E-mail: adigomes@hotmail.com)

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