Este é o Miscelânea, por Júlio Lucas

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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Em entrevista à Tribuna da Bahia, Zezéu admite erro do PT ao prestigiar paulistas em detrimento do Nordeste no Governo Dilma

Para o deputado petista, a expressiva 
vitória  de Dilma no Nordeste não se 
reflete na composição ministerial
Em entrevista à Tribuna da Bahia, o deputado federal Zezéu Ribeiro (PT) falou sobre a participação de baianos na composição ministerial  do governo Dilma, admitiu erro do PT ao nomear mais paulistas que nordestinos e opinou sobre o governo Wagner e a administração de João Henrique à frente da prefeitura de Salvador. 
Veja a seguir parte da entrevista publicada originalmente em 20 de dezembro. 










Tribuna da Bahia - Por que tanta dificuldade para emplacar ministros baianos no governo Dilma?


Zezéu Ribeiro - Olha, baianos, já tem até alguns. Tem o Mário Negromonte, que é baiano. Tem a Luiza Bairros, que não é baiana, mas está erradicada na Bahia há muitos anos. A Lúcia Falcón, que é baiana, está em Aracaju, e vai para o Desenvolvimento Agrário. Quer dizer, tem baianos. Eu acho que, no PT, a gente cometeu um erro, porque teve um Ministério muito paulistano. Dos oito primeiros cargos de ministros, eram oito do PT e oito de São Paulo, então, eu acho que isso é um equívoco. Você tinha que pluralizar mais geograficamente esse processo. Depois, se você imaginar uma postura estratégica do crescimento do partido, o Nordeste deu uma vitória mais expressiva. Para você ter uma ideia, o PMDB tem três dos cinco ministros nordestinos, o PSB, dos dois ministros, dois são nordestinos, o PCdoB, possivelmente, terá a Luciana (Santos, PCdoB). Então, a região Nordeste vai ter uma porção de ministros e são ministros não petistas. O PT ficou numa situação difícil em relação a isso e eu acho isso ruim.

Tribuna - Foi uma falha do PT baiano, uma falha do governador?


Zezéu - Não, eu acho que a gente, no PT, sofre. Eu faço política desde a política secundarista. Na política secundarista, universitária, profissional, sindical, a gente tem uma mentalidade daquela coisa da locomotiva puxando os vagões. Veem o Brasil a partir de São Paulo e essa é uma perspectiva ruim e esta se afirma culturalmente nesse processo todo pela pujança, pela importância que se tem em São Paulo, e isso acaba minimizando todas as outras áreas. Faz parte da cultura paulistana, e o PT é dependente desse processo.

Tribuna - O governador Jaques Wagner fala muito da relação pessoal com a presidente Dilma. Ele estaria com dificuldades para garantir espaço na formação ministerial?

Zezéu - Ele colocou as nossas reivindicações. Não foi contemplado, a princípio. É um processo de conquista de espaço. A nível dos investimentos, ele tem conseguido atrair coisas importantes para a Bahia e ele quer projetos, quer alterar esse padrão da Bahia e vai fazê-lo no curso do processo.


Tribuna - A Bahia tem hoje a Integração, a Cultura, o Esporte, a CGU, a Petrobras. Qual deveria ser o espaço do PT baiano na nova formação ministerial?

Zezéu - Isso não é pontificável dessa forma. Você fez, inclusive, uma generalização boa porque você tem dois que estão fora da Bahia há muito tempo e não têm hoje essa ligação com o estado, e não foi por indicação da Bahia. Então, aí a gente pode ampliar. Mas o que a gente tem que ter condição é de ter presença no cenário nacional e ter capacidade de influenciar decisões políticas. Isso se faz através da bancada, através do governador e da representação ministerial também. Eu acho que nesse ponto a gente é credor.

Tribuna - A Bahia teve grande relevância na eleição federal. O PT baiano não estaria sendo desprestigiado pela não presença de um petista na composição do Ministério dela?

Zezéu - Não dá para ficar chovendo no molhado. Eu já coloquei essa questão. Não dá para medir dessa forma. Agora, eu acho que o Nordeste como um todo, o PT do Nordeste como um todo, pela importância, e a Bahia, em particular, terminaram não tendo a representatividade que mereceu no quadro ministerial.

Tribuna - Existe alguma possibilidade de o PT nacional ceder espaço de decisão para outros estados? A Bahia tem pleiteado isso junto à executiva?

Zezéu - A gente não pode fazer guerra, mas temos que lutar por um tratamento diferenciado para o Nordeste porque se a gente trata igualmente os desiguais, a gente acirra a desigualdade. Isso se dá no âmbito das políticas públicas. Temos feito políticas públicas que levaram a um crescimento maior do Nordeste do que a média nacional. Isso se dá através de injeção de recursos e, para isso, a representatividade nesse sentido é fundamental. Então, nós vamos lutar por isso. Eu coordenei a bancada do Nordeste nesses quatro anos e usei esse espaço para podermos trabalhar nessa diferenciação. Agora a gente tem que avançar. A gente precisa ter efetivamente implantada uma política nacional de desenvolvimento regional. Recriamos a Sudene, mas, infelizmente, ela não teve força em posição dos vetos colocados ao projeto e, por inépcia da administração, a gente ficou sem alavancar como deveria e, por essa razão, não criamos o Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional, mas criamos o arcabouço de uma política nacional de desenvolvimento regional. Então, quer dizer, são avanços setoriais, pontuais, às vezes gerais, mas acho que não chegam ao desiderato maior e agente vai construindo e, com certeza, alterando essa realidade.

Tribuna - Expectativas para o governo Dilma. Qual será a maior vantagem encontrada e o maior problema herdado, para ser administrado?

Zezéu - Dilma já encontra um espaço aberto para começar. Existe uma resistência ideológica, muitas vezes até dos próprios parceiros, mas o governo Lula conseguiu um sucesso extraordinário, então isso abriu o caminho, é uma grande estrada aberta para isso. Essa é a vantagem que ela tem. Ela foi eleita, inclusive, em cima disso. Claro que a influência pessoal de Lula tem, mas não é porque Lula faz um bom discurso, é também por isso, mas é porque Lula mudou a realidade do povo. Nós criamos um processo de mobilidade social extraordinário com distribuição de riquezas, quebramos o paradigma de que é preciso concentrar para crescer. Entendemos que, para crescer, precisamos distribuir para criar um mercado interno e esse mercado interno fosse indutor do crescimento e isso deu certo.
Veja entrevista na íntegra: www.tribunadabahia.com.br

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