Este é o Miscelânea, por Júlio Lucas

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terça-feira, 13 de julho de 2010

Um jovem sexagenário chamado Rock’n’roll

Quando surgiu nos subúrbios dos EUA entre o final dos anos 40 e início da década de 50 muitos acreditavam ser apenas uma onda passageira. O registro de nascimento se deu na cidade de Cleveland, no estado de Ohio em 1951, quando um programa de rádio começou a tocar o som vibrante que misturava gêneros musicais da cultura negra, como o rhythm and blues, ao country. Foi o discotecário Alan Freed responsável pelo batismo. Ele teria usado pela primeira vez a expressão rock and roll para designar aquela música de letras simples com ritmo frenético executada por guitarra elétrica, baixo e bateria.
A profecia estava feita: as pedras não parariam mais de rolar. A novidade irritou os donos da moral e dos bons costumes, deu dor de cabeça aos pais de adolescentes e fortuna a artistas, gravadoras e empresários. Mas acima de tudo, colocou régua e compasso nas mãos dos jovens para que dali a diante traçassem um estilo de vida com a sua cara, com seu jeito.
A aparição da dentição se deu a partir de 54 com Bill Haley seguido de Elvis Presley. Este atingiu sucesso extraordinário levando de vez o novo ritmo pelo mundo a fora. Chuck Berry, Little Richard e Jerry Lee Lewis com seu piano, fizeram parte da primeira arcada dentária do menino chamado rock and roll nos idos anos 50.
Ao completar uma década de existência, o estilo musical que fazia Elvis rebolar, moralistas quebrarem discos e adolescentes entrarem em êxtase, parecia começar a perder vigor. Seria o começo do fim prenunciado pela oposição de plantão? Ledo engano: em 62 a platéia planetária foi novamente surpreendida. Desta vez eram os garotos de Liverpool que estouravam nas paradas da Europa e EUA com “Love me do” e em seguida disseminariam a febre da beatlemania por todo o mundo até atingir a marca de um bilhão de discos vendidos. Os Beatles oxigenaram o rock e abriram as comportas para uma enxurrada de grandes artistas como Rolling Stones, Animals, Pink Floyd, The Doors, The Who, Jefferson Airplane, Jimi Hendrix e Janis Joplin. Estes quatro últimos, consagrados pela participação no Festival de Woodstock, em 1969, que contou com a presença de meio milhão de pessoas sob o lema: “Música, Amor e Paz”.
Mas, a essência daquela época tinha chegado em 63, quando um norte-americano “caipira”, do estado de Minnesota, gravou Blowin’In The Wind, canção que se tornaria hino do movimento dos direitos civis. O nome dele? Bob Dylan, o responsável por injetar no Rock letras poéticas e politizadas de contestação. Depois dele, questões como racismo, guerra, poesia beat, liberdade feminista, e tabus como sexo e drogas passaram a integrar o contexto da geração conhecida como Anos Rebeldes.
Por essa mesma razão que em 13 de julho de 1985, o músico e ator Bob Geldof (é... aquele mesmo que protagonizou The Wall, O Filme), organizou o Live Aid: show simultâneo na Inglaterra e EUA com o objetivo de acabar com a fome na Etiópia. Artistas como The Who, Status Quo, Led Zeppelin, Dire Straits, Madonna, Queen, Joan Baez, David Bowie, BB King, Mick Jagger, Sting, U2, Paul McCartney, Phil Collins, Eric Clapton e Black Sabbath participaram deste concerto que consagrou 13 de julho como o Dia Mundial do Rock.
A maioridade do rock chegou com a profissionalização da indústria fonográfica, massificação da música, e gulodice da mídia dos anos 70. Surgiram vários subgêneros e rótulos musicais como rock progressivo, disco music, heavy metal e punk rock. Com tanta oferta, alguns críticos se lambuzaram na autoconfiança e chegaram a achincalhar exemplares que se tornariam verdadeiros clássicos: Led Zeppelin, Black Sabbath, Queen e Iggy Pop, não escaparam das línguas maledicentes e equivocadas dos frustrados profetas midiáticos.
Frank Zappa, Creedence Clearwater, Neil Young, Deep Purple, David Bowie, Ramones, Genesis, Yes, AC/DC, Talking Heads, Sex Pistols, The Clash, The Police, Iron Maiden, U2, e muitos outros fazem parte da plêiade incontestável que a partir dos anos 70, anos 80 adentro, até os dias atuais, influenciam o inconsciente coletivo que paira pelos alto-falantes sempre que alguém toca um rock’n’roll. E mesmo na condição de sexagenário que ele se encontra, faço minha as palavras dos nossos conterrâneos Raul Seixas e Marcelo Nova: “Alguns dizem que ele é chato/ Outros dizem que é banal/ Já o colocam em propaganda/ fundo de comercial/ Mas o bicho ainda entorta minha/ coluna cervical”.

OBS: Vale ressaltar que todos os artistas citados aqui não compõem sequer a ponta desse iceberg de essência genuinamente rebelde. Por isso, boa e significativa parte desse universo é a sustentação underground distante da massificação que mantém o dínamo de originalidade e honestidade do rock em permanente atividade. Os omitidos (incluindo do cenário nacional) não foram esquecidos, mas salvaguardados para outra parte dessa história que não tem fim.

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