Sei que existe uma minoria que atua nos veículos de comunicação sem a menor capacidade de opinar sobre assuntos de cunho cultural, de interesse da moral, dos bons costumes e do bom senso. Sei até que são capazes de influenciar pessoas despreparadas na hora de avaliar questões de interesse público, invertendo valores, seja por incompetência ou por má-fé. Dentro deste triste contexto, a Secretáaria de Cultura e Turismo de Jequié tem sido incompreendida e condenada por uma parte dessa gente por ter quebrado um estranho paradigma em nosso município: Fazer do São João de Jequié uma festa de tradição, de respeito à família, de interesse cultural, de alegria e paz. Em síntese: o crime foi fazer do São João um SÃO JOÃO.
Isso mesmo, desde os preparativos, algumas pessoas criticaram o São João Xangô Menino por promover uma leitura sincrética da festa junina valorizando a cultura afro (no ano da Copa da África do Sul). Reclamaram das cores das bandeirolas vermelhas e brancas voltadas, obviamente, à personalização proposta pelo mote. Aos que quisessem olhar para cima, perceberiam as tais bandeirolas verdes e amarelas espalhadas pelas áreas adjacentes das praças principais do circuito da festa, a fim de atender ao apelo do Brasil na Copa do Mundo. E para os torcedores, foi instalada pela Secretaria de Esportes e Lazer, a Central da Copa no Ginásio de Esportes com telões e toda infraestrutura necessária para este fim. Cada coisa no seu lugar.
Os reclamões também questionaram a grade de atrações (vejam só) com os melhores representantes do nosso forró clássico: Dominguinhos, Targino Gondim, Flávio José, Orquestra Sanfônica de Aracajú, Adelmário Coelho. E não compreenderam a presença do internacional Gilberto Gil, que viveu parte da infância em Ituaçu e Ibirataia, com fortes laços com Jequié no período da Tropicália. Até agora, os críticos desinformados não entenderam a relação do mote proposto com a presença de Gil e de Dominguinhos, o homenageado da festa: “Ai, São João, Xangô Menino/ Viva São João/ Viva Refazenda/ Viva São João/ Viva Dominguinhos/ Viva São João(...)” (Canção de Caetano e Gil). Os donos da razão sequer devem saber que o primeiro instrumento de Gil foi uma sanfona e que ao longo da sua carreira, a música genuinamente nordestina o acompanharia nas suas interpretações de Luiz Gonzaga, e nas parcerias com Dominguinhos e Targino Gondim.
Inconformados, os ignorantes preconceituosos, depois de verem a praça cheia de alegria e paz, tentaram compartilhar a carapuça, que só caberia nas suas cabeças, com os jequieenses e visitantes que dançaram forró e cantaram parabéns para Gil (aniversariante de 26/06), após o ex-ministro chamar de ignorantes os ignorantes que disseminaram o clima de fobia religiosa nas vésperas dos festejos. "A festa é do Todo Poderoso, não de poucos poderosos..." enfatizou Gil.
Quando pensei que já tinha ouvido todas as besteiras possíveis sobre a celeuma criada pelos equivocados e/ou mal-intencionados de plantão, qual foi minha surpresa, quando soube que as críticas continuaram,. Desta vez, por parte das nossas autoridades e representantes civis. Soube que alguns deles demonstraram desconhecer a influência negra na nossa região e nos folguedos nordestinos, onde quer que estes aconteçam. E a celeuma segue, sem que percebam (ou admitam) que o maior desserviço à comunidade jequieense e ao comércio foi praticado na verdade por meia-dúzia de (de)formadores de opinião, quando criaram esse clima de terrorismo psicológico, afastando da festança algumas cabecinhas emprenhadas pelos ouvidos.
Para completar, ainda tem gente importante sugerindo que devemos retroceder ao passado da praça lotada por jovens embriagados e do grande número de ocorrências policiais ao som (que de forró, nada tem) das atrações com repertório repleto de refrões que fazem apologia a bebedeiras e orgias.
Mas, quando penso que tudo está perdido, me chega um email com o texto a seguir, de Ariano Suassuna (aos que não sabem, uma das maiores autoridades vivas da nossa cultura) engrossando o coro do bom-senso, da moral e do verdadeiro SÃO JOÃO.
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