Este é o Miscelânea, por Júlio Lucas

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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Bispo recusa comenda do Senado em protesto ao reajuste que beneficia congressistas, ministros e Presidente da República

Dom Manuel: "comenda é uma
afronta ao povo brasileiro"
Numa heróica atitude de protesto contra o aumento salarial de 61,8% aprovado pelos parlamentares em causa própria, o bispo-emérito de Limoeiro do Norte (CE), Dom Manuel Edmilson da Cruz, recusou nesta terça-feira (21) comenda do Senado Federal. 
A homenagem em questão é a Comenda dos Direitos Humanos Dom Helder Câmara. A recusa do bispo aconteceu durante um incisivo discurso no plenário do próprio Senado. Ele criticou os parlamentares por aprovarem o aumento do salário em beneficio próprio para um valor incompatível com a realidade do povo brasileiro. Em trocadilho o religioso reclamou: “Quem assim procedeu não é parlamentar, é para lamentar”, e afirmou que a comenda que lhe foi oferecida não honra a história de Dom Helder Câmara, que teve atuação destacada na luta pelos direitos humanos durante o regime militar.
A comenda hoje outorgada não representa a pessoa do cearense maior que foi Dom Helder Câmara. Desfigura-a, porém. Sem ressentimentos e agindo por amor e por respeito a todos os senhores e senhoras, pelos quais oro todos os dias, só me resta uma atitude: recusá-la. Ela é um atentado, uma afronta ao povo brasileiro, ao cidadão, à cidadã contribuinte para o bem de todos, com o suor de seu rosto e a dignidade de seu trabalho”, afirmou o bispo.
Para ele o aumento dado aos parlamentares deveria ter como base o reajuste que será concedido ao salário mínimo, de cerca de 6%. O que aconteceu no entanto foi um reajuste mais de dez vezes maior do que o que se cogita oferecer ao restante da Nação. “O aumento a ser ajustado deveria guardar sempre a mesma proporção que o aumento do salário mínimo e da aposentadoria. Isso não acontece. O que acontece, repito, é um atentado contra os direitos humanos do nosso povo”, enfatizou.
O senador José Nery (PSOL-PA) que presidia a sessão no momento da recusa da comenda disse que o Congresso deveria refletir sobre o reajuste após o protesto do bispo e afirmou compreender a atitude do religioso. “Entendemos o gesto, o grito, a exigência de Dom Edmilson da Cruz”. Nery, foi um dos três senadores a se manifestar na votação de forma contrária ao aumento.
REAJUSTE - Na semana passada em votações-relâmpago os congressistas aprovaram o projeto que aumenta os salários dos deputados e senadores, do presidente, do vice e dos ministros de Estado para R$ 26,7 mil. O aumento valerá a partir de fevereiro de 2011.
O novo valor é o mesmo dos vencimentos dos ministros do Supremo Tribunal Federal, que serve como teto do funcionalismo público. Atualmente os deputados e senadores ganham R$ 16,5 mil, para eles o reajuste representou um acréscimo de 61,8%; a Presidente da República foi contemplada com um reajuste de 133,9%, mais que dobrando o salário de R$ 11,4 mil; o vice e os ministros que recebem R$ 10,7 mil ganham reajuste de 148,6%.
Em um levantamento subestimado feito por A Folha (já que não levou em conta benefícios que não têm valores divulgados ou são de difícil mensuração), apenas o aumento dos vencimentos de cada um dos 594 congressistas vai representar custo médio de R$ 128 mil por mês aos cofres públicos. 
Antiga aspiração de congressistas, a equiparação salarial aos vencimentos dos ministros do STF causará um efeito cascata em Assembleias e Câmaras Municipais que, somado ao gasto extra no Congresso, alcançará pelo menos R$ 1,8 bilhão ao ano. 
Pelo visto, os cortes nos gastos públicos previstos para 2011 deverão afetar apenas os peixes pequenos enquanto os tubarões de colarinho-branco vão ostentar conforto às custas do sofrido dinheiro do contribuinte brasileiro.
Com informações da http://www1.folha.uol.com.br. FOTO: J. Freitas / Agência Senado.

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