Este é o Miscelânea, por Júlio Lucas

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terça-feira, 10 de maio de 2011

Entrevista com Narlan Matos marca estreia do "papoonline.com:" no Miscelânea


Na madrugada de 9 para 10 de maio estive batendo um papoonline.com: Narlan Matos Teixeira. Poeta, músico e cientista cultural. Teclando por MSN, ele me contou sobre seus trabalhos artísticos e acadêmicos, sobre sua ligação com Jequié e do disco que gravou recentemente com Cesar Rasec e participação de Luiz Caldas. Também contou detalhes do seu encontro com Gilberto Gil nos EUA e do desencontro com Adriana Calcanhotto em Salvador. A madrugada avançava enquanto ele revelava curiosidades da sua amizade com gente como Waly Salomão, Rogério Duarte, Ferlinghetti, Chomsky e Ferreira Gullar, além de fatos da infância, e mesmo da sua (pré-)história. Foi um papo online descontraído, considerado por ele a melhor entrevista já concedida, que posto para os leitores do Miscelânea na íntegra, com exclusividade.

Júlio Lucas diz (23:08):
Em outubro de 2010, numa entrevista que me concedeu por telefone durante o programa Tribos do Rock, você falou que havia assistido ao show de Bob Dylan dias antes. Poderia falar um pouco mais sobre essa invejável experiência?

Narlan Teixeira diz (23:09):
Com prazer. Foi uma experiência histórica pra mim. Por sinal, minha queridíssima amiga Adriana Calcanhotto me pediu pra contar detalhes do show também! Mandei um super e-mail pra ela descrevendo tim tim por tim tim o que aconteceu.  Dylan dançou no palco, coisa que eu nunca tinha visto vê-lo fazer antes.

Júlio Lucas diz (23:10):
Ele tava se sentindo em casa...

Narlan Teixeira diz (23:10):
Tocou teclados o show todo. Exceto em uma música em que tocou guitarra.
Era um show no Meio-oeste que é a região onde ele nasceu, Assim, no meio da gente aqui ele tava se sentindo em casa.
Uma coisa que gostei muito foram os velhões na plateia trazendo seus filhos pra verem o velho ídolo.

Júlio Lucas diz (23:11):
Várias gerações...

Narlan Teixeira diz (23:12):
Isso. Tinha um pessoal que parecia que havia acabado de sair de Woodstock! Literalmente.

Júlio Lucas diz (23:12):
rs

Narlan Teixeira diz (23:12):
rs... A tribo estava toda em transe.

Júlio Lucas diz (23:13):
Deve ter rolado uma energia boa...

Narlan Teixeira diz (23:14):
Tudo do bom e do melhor. Eu fui com um grupo de amigos americanos que foram dos anos 60. Ao final, estávamos todos emocionados.

Júlio Lucas diz (23:14):
Narlan... Você está fazendo doutorado pela University of New México... a quantas andam as coisas neste sentido?

Narlan Teixeira diz (23:16):
Na verdade eu fiz meu mestrado na University of New Mexico. Agora tô fazendo meu doutorado na University of Illinois at Urbana Champaign. Agora só falta defender a tese.
Minha tese é sobre o lendário tropicalista Rogério Duarte, o pai da Tropicália.
Mas, a partir de Rogério Duarte eu fui descobrindo muita gente. Rogério Duarte foi me dizendo pra procurar Dicinho, Cesar Zama, Lula Martins, Edinizio Ribeiro Primo, Bené Sena, e daí fui descortinando um universo totalmente novo para mim e para o Brasil, assim como para meu campo de estudos.

Júlio Lucas diz (23:20):
Antes de falar do Grupo de Jequié, conta um pouco então como você conheceu Rogério Duarte. E como foi o encontro com ele aqui em Jequié, no São João de 2010.

Narlan Teixeira diz (23:20):
Meu encontro com Rogério Duarte passa, necessariamente por Jequié ! Então não tem como fugir ! rs

Júlio Lucas diz (23:20):
rs... Pode ficar à vontade...


Narlan Teixeira diz (23:21):
Qem me apresentou a ele foi nada mais nada menos que Waly Salomao!
Eu já era amigo de Waly, que conheci em Salvador no lançamento do livro Lábia, na Academia de Letras da Bahia. Eu tinha então uns vinte e poucos anos.

Júlio Lucas diz (23:22):
Foi outro dia... rs

Narlan Teixeira diz (23:22):
Ele leu meu livro de estreia Senhoras e senhores: o amanhacer e gostou muito. Daí em diante ele já se comportava como se fosse um velho amigo meu.
Ele me dizia: "procura fulano, procure beltrano, procure cicrano e diga que FUI EU QUEM MANDOU!”

Júlio Lucas diz (23:24):
Waly tinha isso... se gostava era rápido na amizade. Se não gostava, também não perdoava...
Um grande articulador cultural...

Narlan Teixeira diz (23:24):
Ele foi meu mestre! Ele me ensinou a recitar poemas, e também me ensinou como abrir o caminho.
Ele dizia: "mete o cotovelo e vai abrindo caminho" RS... e foi o que fiz. 

Júlio Lucas diz (23:25):
Não é todo mundo que tem a sorte de encontrar um guru deste

Narlan Teixeira diz (23:26):
Ele ligava pra mim do Rio e falávamos horas. Dai a pouco o telefone tocava e era alguém que ele tinha dito pra me contatar.

Narlan Teixeira diz (23:28):
Um dia de sexta-feira eu cheguei em casa e tinha um recada pra lá de maravilhoso para mim! Eu tinha sido convidado por Adriana Calcanhotto para assistir a seu show Marítimo, no projeto Sua Nota é Um Show!
Claro! Eu fiquei entre maravilhado e abobalhado.

Júlio Lucas diz (23:29):
Imagino...

Narlan Teixeira diz (23:29):
Como se tivesse ficado demente. Não sabia se ria, não sabia se gritava.

Júlio Lucas diz (23:30):
Em êxtase

Narlan Teixeira diz (23:30):
Também o pessoal da produção tinha pedido para eu passar no Hotel onde ela estava pra pegar os ingressos. O que eu fiz imediatamente. Só que antes de sair de casa o telefone tocou de novo. Adivinha quem era?
Waly Salomão, pra se certificar que a produção tinha me ligado mesmo.

Júlio Lucas diz (23:30):
rs

Narlan Teixeira diz (23:31):
Daí ele me disse: "Vá lá e se apresente a Adriana. Leve também uma cópia do seu livro para ela".

Júlio Lucas diz (23:32):
Não foi por acaso que ele revelou gente como Baby Consuelo e amplificou a aceitação de tantos outros talentos...

Narlan Teixeira diz (23:32):
Foi aí que eu enlouqueci mesmo! Que sexta-feira!
Só que quando eu cheguei ao hotel, a Adriana já tinha saído para a Concha Acústica e a empresária dela me pediu para ir ao camarim depois do show.
Só que nesse dia a Concha estava abarrotada de gente. E o pessoal da segurança aconselhou Adriana a sair logo depois do show. E daí nunca nos encontramos pessoalmente.

Júlio Lucas diz (23:34):
Então esse é um encontro que ainda tem que acontecer... em honra a memória de Waly.
Narlan, já que estamos falando de música, fale um pouco sobre seu veio musical. Lançamos "Martinica" em primeira-mão na 105 FM. Como foi realizado seu CD? É um trabalho promocional, ou tem uma gravadora providenciando a distribuição?

Narlan Teixeira diz (23:37):
É um disco que fiz em parceria com o poeta e produtor Cesar Rasec.
O conceito do disco eu encontrei quando eu estava no Japão. Em Tokyo.
Eu batizei este disco de BOSSA NEGRA.
Basicamente, em termos de musica, eu misturei musicas afro-brasileiras com bossa nova.
Ou seja: é uma bossa com muito swing.
Quando eu cheguei do Japão eu já cheguei com as melodias na cabeça.

Júlio Lucas diz (23:40):
Já que a essência da bossa é o samba mesmo.
O fato de estar tão longe do Brasil deve ter te inspirado a redescobrir sua terra natal através da música.

Narlan Teixeira diz (23:41):
Isso. As melodias eu compus em uma semana apenas. Dai Rasec e eu fizemos as letras. Rasec me apresentou ao mestre Luiz Caldas, o pai da Axe Music, que emprestou um pouco do seu gênio para o nosso disco. Digo um pouco porque Luiz Caldas tem genialidade demais. Luiz tocou em todas as faixas do disco.

Júlio Lucas diz (23:42):
Grande instrumentista!

Narlan Teixeira diz (23:42):
De certa forma o disco também é dele. Agora eu enviei o disco para 25 gravadoras em 5 países diferentes e estou aguardando para ver.

Júlio Lucas diz (23:43):
Em algum lugar ele deve colar e decolar

Narlan Teixeira diz (23:44):
Rs...Esperamos!

Júlio Lucas diz (23:44):
Tem planos para percorrer o Brasil com show?

Narlan Teixeira diz (23:44):
O caminho é longo! Estamos indo aos poucos, tendo em mente que não somos grandes empresários.

Júlio Lucas diz (23:45):
Depende do desenrolar...

Narlan Teixeira diz (23:45):
Isso. O que importa é que o projeto está realizado e o resultado ficou muito bom. Com uma sonoridade muito própria.

Júlio Lucas diz (23:46):
E a poesia?... tem tido pausa para poesia? Para se inspirar e labutar no esmeril dos versos? Ou você é daqueles iluminados que têm um insight e ela (a poesia) já nasce pronta para ganhar o mundo?

Narlan Teixeira diz (23:47):
SUBVERSIVA

A poesia
Quando chega
Não respeita nada.

Nem pai nem mãe.
Quando ela chega
De qualquer de seus abismos

Desconhece o Estado e a Sociedade Civil
Infringe o Código de Águas
Relincha

Como puta
Nova
Em frente ao Palácio da Alvorada.

E só depois
Reconsidera: beija
Nos olhos os que ganham mal
Embala no colo
Os que têm sede de felicidade
E de justiça.

E promete incendiar o país.

Narlan Teixeira diz (23:48):
FERREIRA GULLAR
Taí um poema do meu grande mestre e amigo Ferreira Gullar.
Esse lhe responde.

Júlio Lucas diz (23:51):
Maravilha! Responde e diz muito mais. Quando te conheci, te revelei a impressão de que temos algumas coisas em comum. Me identifiquei com sua poesia. E Ferreira Gullar é um dos meus poetas preferidos desde a adolescência.

Narlan Teixeira diz (23:51):
Li Gullar pela primeira vez quando eu tinha 15 anos. Foi no lendário Colégio Taylor-Egidio, em Jaguaquara.
O poema se chamava O AÇUCAR. E eu disse "Esse cara é bom".

Júlio Lucas diz (23:52):
Sim... Ele descreve o açúcar desde o sofrimento da colheita no canavial até a xícara, para adoçar a vida do consumidor...

Narlan Teixeira diz (23:52):
Anos mais tarde Gullar escreveria a orelha do meu primeiro livro de poemas, quando eu tinha 20 anos de idade. Isso é uma das coisas que mais me orgulho em minha vida.

Júlio Lucas diz (23:53):
É para se orgulhar mesmo.

Narlan Teixeira diz (23:53):
Outro dia, escrevi um poema pela passagem dos 80 anos de Ferreira Gullar que, nas palavras dele mesmo, o emocionaram muito.

Júlio Lucas diz (23:54):
Além de Ferreira Gullar, quem mais te influenciou e influencia na poesia? Quais os preferidos?

Narlan Teixeira diz (23:56):
Já te mandei o tal poema que escrevi sobre Gullar, inclusive com os comentários dele ao final.
Se quiser pode publicar, com exclusividade. Junto com a entrevista

Júlio Lucas diz (23:57):
Será um prazer

Narlan Teixeira diz (23:57):
O primeiro poeta que me influenciou foi o irreverente e anarquista Oswald de Andrade. Esse eu li aos 14 anos, acidentalmente. Ele imprimiu em mim muito do meu comportamento poético.
Depois vieram Drummond, Bandeira - Bandeira eu leio até hoje.
Leio muito o grande poeta Ruy Espinheira Filho também, que tem uma história em Jequié, também.

Júlio Lucas diz (00:00):
Sim... membro da ALJ (Academia de Letras de Jequié) que nos honra muito.

Narlan Teixeira diz (00:00):
E outros poetas pelo mundo afora, Na Eslovênia, gosto muito de Tomaz Salamun, que se tornou um de meus melhores amigos e promotores de minha poesia pelo mundo afora.

Júlio Lucas diz (00:02):
E o seu relacionamento com a poesia Beat? Ferlingetti é seu amigo também.

Narlan Teixeira diz (00:03):
Sim, este, eu primeiro entrei em contato em 2002, quando eu vim para os USA pela primeira vez, aos 27 anos. Em 2002 eu ganhei dois prêmios internacionais importantes e que naturalmente mudaram minha vida pra sempre.
Mas quem primeiro me falou sobre a poesia Beat foi meu amigo James Riordan, Que na época era Diretor Acadêmico da ACBEU. Por sinal ele foi um grande mecenas para mim.
Quando eu vim para os USA eu me tornei amigo de dois dos maiores expoentes da geração Beat, Lawrence Ferlinghetti e Robert Creeley. Este último gostou muito dos meus poemas a ponto de ter escrito uma resenha.

Júlio Lucas diz (00:06):
Incrível! Rs! São ícones de tantas gerações!
Qual é o segredo dessa facilidade para fazer amigos renomados no universo intelectual?

Narlan Teixeira diz (00:09):
Mas, a crítica que Ferlinghetti escreveu a meus poemas me marcou profundamente a ponto de eu mudar toda minha linguagem depois.
O segredo? Foram as aulas que tomei de Waly Salomão.

Júlio Lucas diz (00:10):
Rs. Pois é: A começar por Waly, que te apresentou como revelação na plêiade da poesia contemporânea, depois Rogério Duarte - que lhe confiou a missão para revelar o lado underground da Tropicália - e recentemente, Ferlingetti e o linguista e ativista Noam Chomsky. Seria seu talento inato que provoca essa sinergia, ou tem muito trabalho envolvido nisso?

Narlan Teixeira diz (00:11):
Primeiro é meu instinto de índio Mongoió, Depois é o labor diário. Muito trabalho mesmo.

Narlan Teixeira diz (00:11): 
Ontem Chomsky me escreveu injuriado porque Obama batizou a operação para matar Bin Laden de Gerônimo. Você sabe que Gerônimo é um dos maiores heróis indígenas dos Estados Unidos. Chomsky tava com muita raiva disso.

Júlio Lucas diz (00:13):
Com certeza... é uma blasfêmia.

Narlan Teixeira diz (00:14):
Eu me senti ofendido com a tal operação. Afinal de contas, qual é o brasileiro que não tem sangue de índio?

Júlio Lucas diz (00:16):
Chamar o inimigo número um dos EUA e de boa parte do ocidente pelo pseudônimo de um herói indígena, é complicado... para não dizer infeliz.

Narlan Teixeira diz (00:16):
Transformou um terrorista num herói e um herói num terrorista!

Júlio Lucas diz (00:17):
Isso... você sintetizou o absurdo.

...[A conexão caiu]...

Narlan Teixeira diz (00:24):
Queria que você falasse um pouco como foi sua infância. Já imaginava que iria seguir carreira tão diversa e exigente, quando ainda menino?

Narlan Teixeira diz (00:24):
Rs... Meu nascimento foi precedido de algumas profecias, seriamente.

Júlio Lucas diz (00:25):
Sim...

Narlan Teixeira diz (00:25):
Primeiro, minha mãe já estava com 40 anos, que nos anos 70 era considerada uma idade avançada demais. Queriam que ela me abortasse!

Narlan Teixeira diz (00:26):
Inclusive meu pai. Mas antes disso, eu deveria ter dito outra coisas. rs
Meio Machado de Assis aqui.
Minha mãe achava que estava doente. Começou a enjoar, se sentir mal. Na noite de Natal de 1974, pouco antes da Missa do Galo ela foi visitar sua melhor amiga. Dona Nalvinha. Uma senhora que é parte de minha vida desde antes de eu nascer.

Júlio Lucas diz (00:28):
sim...

Narlan Teixeira diz (00:28):
Ao chegar à casa de Tia Nalva, uma negra linda e de olhos azuis, que também é espírita - minha mãe falava que estava doente - e de repente tia Nalva teve uma visão: Uns 20 minutos antes da Missa do Galo, ela viu um menino sentado no muro baixinho que rodeava toda a casa onde morávamos, e disse à minha mãe que ela estava grávida e que ia ter um menino.
...E disse: "olha lá o tal menino sentado no muro", e as duas correram para ver o tal menino, mas o tal desaparecera, de repente. Daí ela disse muitas coisas a minha mãe: que se preparasse porque seu filho vinha dela mas pertencia ao mundo... Que ia embora para muito longe.

Narlan Teixeira diz (00:32):
Pessoas que conviviam com minha família na época em Itaquara, ainda se lembram. Como meus padrinhos Wilson Midlej e Jussara Midlej, que moram aí em Jequié. Eles ainda me contam estórias de que minha mãe batia na imensa barriga e dizia: "Esse pertence ao mundo, Vai embora, Vai me deixar"

Narlan Teixeira diz (00:33):
Então hoje me contam essas estórias sobre mim mesmo que eu nem sabia porque ainda não existia.

Júlio Lucas diz (00:33):
Você é um predestinado

Narlan Teixeira diz (00:34):
Parece que desde antes de nascer eu já vinha cheio de estórias. Ou melhor: essas são estórias da minha pre-historia! rs

Narlan Teixeira diz (00:35):
Depois queriam que minha mãe me abortasse. Que tinha riscos de vida

Júlio Lucas diz (00:36):
Gravidez de risco pela idade avançada, para a época.

Narlan Teixeira diz (00:36):
Mas Dona Zorinha bateu o pé e disse que se tivesse de morrer pelo filho, morreria alegre. E aí eu nasci!

Júlio Lucas diz (00:36):
Não morreria alegre, mas viveria feliz com o sucesso do filho no mundo afora...

Narlan Teixeira diz (00:37):
Ela vive me dizendo "Ainda bem que eu não te abortei!"
Segundo ela, valeu à pena.

Júlio Lucas diz (00:38):
E com certeza essa é a opinião de muita gente pelo mundo, por onde você passou e passa.
Você esteve com Gilberto Gil nos EUA pouco tempo antes dele vir fazer o show no São João de Jequié em 2010, e aqui você também esteve com ele. Como foram esses encontros?

Narlan Teixeira diz (00:39):
Isso aconteceu via Rogério Duarte que foi quem fez o meio de campo. Gil ia tocar em Chicago, num grande teatro. Dai eu e minha esposa Krista fomos lá para eu entrevistá-lo.
Fomos ao camarim e batemos muito papo. Eu falei logo de Ituacu, onde ele passou infância. Os olhos dele brilharam! Afinal, quem conhece Ituacu? Daí eu lhe falei da festa que estava sendo preparada em Jequié.
Ele então me falou que tinha feito uma música para marcar a data.

Júlio Lucas diz (00:42):
Você me passou essa informação em primeira mão naquela ocasião.

Narlan Teixeira diz (00:42):
Isso, acho que fui o primeiro a ouví-la. E aí cumpri minha promessa a Gil. Fui a Jequié no dia de seu aniversário... e pra completar, Rogério Duarte tava lá. Tiramos uma foto os três.

Júlio Lucas diz (00:42):
Isso foi incrível! Há tempos que Rogério não saía de casa

Narlan Teixeira diz (00:43):
Isso. Rs.

Júlio Lucas diz (00:43):
Foi histórico.

Narlan Teixeira diz (00:43):
Só mesmo Gil para fazer Rogério sair de casa.

Júlio Lucas diz (00:43):
Rs... e você no meio

Narlan Teixeira diz (00:44):
Não é que eu tenha querido ou tenha requisitado a posição, mas Rogério Duarte diz que eu sou representante da nova vanguarda da Tropicália. Isso me foi passado.

Júlio Lucas diz (00:45):
Isso já tem nome? Retropicália? ou NeoTropicália?

Narlan Teixeira diz (00:45):
Foi Rogério Duarte e Waly Salomão que me sagraram tropicalista.

Júlio Lucas diz (00:45):
Que maravilha!

Narlan Teixeira diz (00:46):
E eu nunca quis isso, mas há coisas na vida que ela arremessa em você sem lhe consultar ou não.

Júlio Lucas diz (00:46):
Ninguém pode negar que você é um predestinado... um iluminado!
Sua missão é grande...

Narlan Teixeira diz (00:46):
Rogério Duarte e eu esquadrinhamos uma nova Tropicália. Esta é a primeira vez que estou declarando isso em público. O plano estético está todo comigo. Tenho que esperar o momento histórico adequado para colocá-la em prática.

Narlan Teixeira diz (00:47):
Para detonar a nova revolução.

Júlio Lucas diz (00:47):
Espero que isso não demore. O Brasil precisa disso...

Narlan Teixeira diz (00:48):
As condições históricas já estão começando a se mover em nossa direção.

Júlio Lucas diz (00:49):
Se a Tropicália catalisava tudo em tempos difíceis como aqueles, hoje o mundo já é uma grande geléia geral.

Narlan Teixeira diz (00:50):
Isso...

Júlio Lucas diz (00:50):
Espero estar por perto para ver isso acontecer

Narlan Teixeira diz (00:50):
Eu também! rs

Júlio Lucas diz (00:50):
Rs... Você tá dentro... no olho do furacão... rs

Narlan Teixeira diz (00:51):
Pois é falando em Tropicália, eu espero que Jequié valorize cada vez mais o Grupo de Jequié. Que fez a segunda-fase da Tropicália.

Júlio Lucas diz (00:52):
Pois é... faltam um pouco de conhecimento e consciência para tanto.

Narlan Teixeira diz (00:53):
Sim, isso pode colocar Jequié não somente na história da cultura do Brasil, mas também pode tornar a cidade uma cidade turística, quem sabe. Eu levanto sempre a bandeira de Jequié por onde passo.

Júlio Lucas diz (00:54):
Recentemente teve um encontro entre a AJI (Associação jequieense de Imprensa) e a Coordenação do São João 2011. E fiquei feliz em ouvir de jornalistas conceituados aqui,  em tom de meã culpa, sobre os abusos e equívocos de parte da imprensa ano passado em relação ao ex-secretário de cultura Bené Sena e o São João Xangô Menino.
A justiça está se desenhando bem antes do que eu imaginava

Narlan Teixeira diz (00:56):
Aliás, Jequié é uma cidade muito importante no cenário cultural da Bahia nos anos 60. Houve um verdadeiro Renascimento. Daí saíram grandes expoentes como Waly Salomão, Jorge Salomão, Geraldo Sarno, Ruy Espinheira Filho, Tuna Espinheira, Dicinho, Edizinio Ribeiro, Lula Martins, Ivan Mariotti, Mauricio Bastos, Cezar Zama, Bené Sena, o Bossa Seis, Dermival Rios e tantos outros.

Júlio Lucas diz (00:57):
Só falta Jequié perceber isso. Mas, creio que aos poucos isso tem acontecido.

Narlan Teixeira diz (00:57):
Só falta alguém ai escrever um livro sobre isso. Jequié nos anos 60. Quem sabe alguém na UESB.

Júlio Lucas diz (00:58):
Inclusive os alunos do curso de artes cênicas da Uesb fizeram uma montagem sobre Waly - " Me segura que eu vou dar um troço" - muito legal mesmo.

Narlan Teixeira diz (00:58):
Se não escreverem, eu mesmo vou fazê-lo! Esse livro não pode ficar sem ser escrito.
Quem sabe, alguém na Rússia o escreva!

Narlan Teixeira diz (00:59):
Ou na Inglaterra; ou na Alemanha; Isso não me surpreenderia...

Júlio Lucas diz (00:59):
Supreenderia muitos aqui em Jequié...
rs

Narlan Teixeira diz (00:59):
rs... Com minha pesquisa, o Grupo de Jequié chegou ao conhecimento de grandes críticos mundiais. Aos poucos eles estão se interessando pelo assunto.

Júlio Lucas diz (01:00):
Sei disso... você abriu portas importantes para isso.
Narlan Teixeira diz (01:01):
Isso leva tempo, mas eu já vejo as comportas do tempo e da justiça se movendo.

Júlio Lucas diz (01:01):
Narlan, você está vindo de férias para sua terra natal Itaquara agora no final de maio. Pretende descansar carregando pedras? Tem planos de realizar alguns trabalhos no Brasil?

Narlan Teixeira diz (01:01):
rs
Eu tô tão cansado que queria arranjar uma casinha numa fazenda no meio do sertão e ficar lá, Afastado do mundo, sem televisão, mas eu sei que não vai ser assim.

Júlio Lucas diz (01:02):
Rs.. Eu mesmo pretendo aproveitar sua vinda para uma entrevista no Tribos do Rock e para oficializar sua posse como Membro Correspondente da ALJ... e quem sabe, uma apresentação musical intimista em Jequié.

Narlan Teixeira diz (01:04):
O prazer vai ser todo meu! Como sempre. Hoje eu estudo muito sobre o coronelismo no Sudoeste da Bahia. E Jequié foi importante neste processo. Sinceramente, eu espero que os pesquisadores da UESB se interessem pelo Grupo de Jequié e comecem a engordar a literatura a respeito do assunto.

Narlan Teixeira diz (01:06):
Críticos do mundo todo têm se interessado pelo Grupo de Jequié. Inclusive eu apresentei um ensaio sobre eles num grande congresso aqui nos Estados Unidos e repercutiu muito. Mas isso precisa encontrar eco ai mesmo. No olho do furacão.

Júlio Lucas diz (01:07):
Em breve, gostaria de ter acesso a uma tradução para publicar por aqui.

Narlan Teixeira diz (01:07):
Sim. Inclusive lá no dia da posse, eu pretendo apresentar este artigo que mudou o rumo da crítica mundial relacionada a contra-cultura no Brasil. Isso é coisa muito seria! Jequié precisa levar isso a sério.

Júlio Lucas diz (01:09):
Faremos o possível para amplificar isso por aqui.

Narlan Teixeira diz (01:09):
Eu só faço homenagem a gente viva, nunca fiz homenagem a morto.

Júlio Lucas diz (01:10):
Depois, "Inês é morta", né? rs

Narlan Teixeira diz (01:10):
É

Narlan Teixeira diz (01:10):
Vai ser um dia histórico para Jequié! Sinceramente. Esse artigo causou uma mudança mundial no assunto.

Júlio Lucas diz (01:10):
Narlan, a madrugada avança... já te aluguei demais... Algo mais que você gostaria de falar para os internautas de plantão?

Narlan Teixeira diz (01:11):
Rapaz... É preciso fazer um monumento em Jequié para honrar o Grupo de Jequie! Libertas qui sera tamen, como diziam os Inconfidentes! No mais...
VIVA ZAPATA !!!!!!!!!!!!!!!!!!

Júlio Lucas diz (01:13):
VIVA ZUMBI!!!!!

Narlan Teixeira diz (01:13):
VIVA ANTÔNIO CONSELHEIRO!
...E VIVA ANÉSIA CAUACU!

Um comentário:

  1. Muito especial esta entrevista... parabéns, Júlio Lucas. Um gosto mais especial ainda ela possui - pra nós que acompanhamos a história de Narlan Matos desde o início!

    Jequié lhe deve muito, sem dúvidas... e grandiosa deve ser a sua posse na AJL: em simplicidade, acolhimento, singeleza e sabedoria, marcas de Narlan; afinal, ele já é parte integrante do "grupo de Jequié" - numa condição peculiar de neotropicalista. Reconhecê-lo como tal, urge!!

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