Este é o Miscelânea, por Júlio Lucas

Leia no seu idioma preferido:

sábado, 27 de novembro de 2010

PAUSA PARA POESIA: DEUSES DA NOITE

Os Amantes, de René Magritte


DEUSES DA NOITE

Copos vazios e sofismas
Abandonados sobre a mesa

Como quilha num mar de lama
Pensamentos fixos
E pernas cambaleantes
Avançam por corredores imóveis
Impregnados de orvalho fétido de mijo etílico

Mal-amanhados
Bailam sob ribaltas do submundo
Desafiam a gravidade da vida
Onde néon e sombras intercalam-se
Compondo a festa dos amantes sem culpa

Na língua dionisíaca
Balbuciam indecências
Desobedecem à lei surda
Afrontam o sono profundo dos lares inertes

Motores aquecem garagens
Cheiro de café
Tilintar de talher
Gorjeios de cozinhas
Sinais da vida bocejante
Sem reminiscências da noite que acaba de morrer

E na cama-nave-louca entregues
Vertiginosamente inebriados de si
No quarto qualquer de hotel barato
Num êxtase que se diluirá como a noite
(Sem restos de reminiscências)
Os amantes voláteis sucumbem
                           ao amanhecer ardil


Júlio Lucas (2001)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

QUEM INTERESSAR POSSA: